terça-feira, 21 de abril de 2009

OS IMPERADORES DA HUMANIDADE - Cap. I - Protocolos a se seguir

Seu Reino e seu Destino dançarão sob a égide do Brasão”.

Rhandur, filho de Khandurin IX, protetor das Terras Baixas, príncipe da Casa de Narhrun ouviu essa frase tão desconexa de um velho mendigo, que transitava pela Praça do Mercado da cidade de Gnathur. Aquele olhar caolho do ancião fitava aquele jovem alto de pele morena, tão bela, cuja face era desejada pelos grandes pintores do Reino das Terras Baixas. Sem compreender o fato e ignorando-o, Rhandur continuou sua caminhada junto à comitiva que o acompanhava a fim de se encontrar com os mercadores que levariam as especiarias aos Reinos do Norte.

Era um trabalho maçante que seu pai havia lhe outorgado, pois conferir junto ao contador-mor a grande caravana de trinta carruagens comandada por Uthar, um ex-tenente da Cavalaria, era demorada e geralmente levava horas, as quais Rhandur consideravam perdidas. Rhandur gostava de passar o dia na Grande Arena observando duelos entre pseudo-dragões e apostando suas jóias naqueles que gostava e noutros que criava em suas fazendas. A arena de combate entre guerreiros e pseudo-dragões remonta a história, quando 22 linhagens se uniram para derrotar a tirania da Linhagem do Dragão Dourado terminando com a obscura Era Gnathur. Nesse duelo os guerreiros devem dominar e matar os pseudo-dragões da arena. Apesar de arriscada, a profissão de duelista nessa arena é rodeada de glória fama e muita riqueza.

Chegando ao local onde a caravana se instalava e recebia as mercadorias, os empregados curvavam-se sob a presença do príncipe. Uthar avançou à frente de Rhandur e curvou-se.

- Que a luz do Sol brilhe e sempre lhe traga o ouro, meu senhor.

- Chega de mesuras por aqui. Estou exausto e quero terminar com isso logo – interrompeu Rhandur.

Uthar entregou um rolo de pergaminho ao príncipe.

- Eis aqui a relação de produtos a serem levados aos Reinos do Norte.

Rhandur desenrolou o pergaminho e leu atentamente a lista de produtos.

- Muitas especiarias interessantes... Durante um tempo Rhandur leu, até que comentou: Estranho...

- O que seria estranho, Majestade?

- Trinta e seis sacas de Lua-em-flor? Que utilidade teria para eles essa folha tão... comum em nossos campos?

- Não sei dizer, Majestade. Eles têm pedido essa folha com freqüência. Oras, pagam muito bem por isso. Como nossos campos estão repletos e, para nós ela é uma praga que verdeja perenemente, até que é um negócio rentável para algo que simplesmente jogamos fora todos os anos.

- Eles não têm essa planta nos Reinos do Norte?

- Devido aos grandes períodos em que Tharion fica em frente ao Sol, nenhuma planta que necessite de grandes quantidades de luz sobrevive naquelas terras frias. Lua-em-flor é uma planta de hábitos que necessitam de muita insolação.

Tharion é um grande corpo celeste vermelho que nasce no sul e se põe no norte no Mundo. Nas Terras Baixas e outros Reinos do Sul, Tharion sempre está no céu à noite e o Sol sempre é visto durante dez das vinte e seis horas do dia. Enquanto nos Reinos do Norte, a luz só aparece por quatro horas, sendo que Tharion oculta o Sol por oito horas cruzando o céu de ponta a ponta e, quando se põe, volta a mostrar o Sol por mais duas horas, já no poente, anoitecendo finalmente. Essa diferença faz com que o céu nos Reinos do Norte mostre as estrelas, o que não se vê no restante do Mundo.

Lua-em-flor movimenta grandes quantidades de riquezas. Os Reinos do Norte fornecem especiarias diversas e que são muito abundantes naquelas terras. Fumos, temperos, perfumes e essências de qualidade superior provêm dos Reinos do Norte. Geralmente caravanas que vêm do Norte são muito visadas e seus transportadores são pessoas muito respeitadas.

A Praça do Mercado estava repleta de pessoas e caravanas que partiriam em filas a fim de se protegerem até um determinado pedaço do caminho, próximo ao Deserto da Desolação quando finalmente tomaria cada uma o seu rumo. Muito barulho, tendas e carroças se espalhavam de uma forma que o mais desatento afirmaria que havia uma grande desordem naquela Praça. Porém, os grupos gostavam de tomar posições para impedir o furto e protegerem-se uns aos outros.

No centro da Praça havia um corifeu e uma encenação de “Laufelin e Leufenir” na visão da Guilda dos Bardos. Não era uma apresentação bem aceita entre os Nobres, pois acusava a impureza entre os grandes Reis. Isso era desconfortável para a maioria das pessoas. Mas em um Reino como as Terras Baixas, onde havia um princípio de democracia e liberdade de expressão forte, era apenas a demonstração dessa idéia, e os nobres apoiavam de certa forma, tentando demonstrar que as Terras Baixas eram um lugar livre da tirania, como diz a Tradição na qual foi formada.

A peça era toda encenada em torno do grande romance da princesa dos Dragões Dourados Laufelin e do Deus Guardião do Reino dos Mortos Leufenir. Resumidamente, Leufenir se apaixona por Laufelin e tenta raptá-la, utilizando a linhagem dos Escorpiões. Porém, Durendou IV, Reino dos Escorpiões, trai a Leufenir e mata Laufelin. Esta se encontra com Leufenir e se apaixona por ele. Em troca de descendentes, Leufenir reencarna Laufelin, que traria novamente a glória dos Dragões Dourados e reunificaria o Reino destruído pelos Escorpiões.

Rhandur assistiu a encenação enquanto seus assessores faziam a contabilidade da caravana. Era uma história bonita e bem contada, com uma música bem composta e, por ser interpretada pela própria Guilda dos Bardos, merecia toda a admiração, pois os integrantes da Guilda eram bardos muito talentosos.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Carta a um incauto

Compreende tu, nobre transeunte a importância de se observar as estrelas? Note que a abóbada celeste passa por nossa ignóbias cabeças sem qualquer cerimônia e muta "a priori" sem que percebamos, porque nossa visão não percebe a profusão de acontecimentos do Universo. Poderia hoje um feixe de raios gama atingir em cheio nosso inocente planeta e pulverizar a vida na Terra e nem notarmos, sendo carbonizados e pulverizados da história sem saber se o Universo está expandindo e do que é feita a matéria escura.

Neste momento em que lê esta carta um meteoro respinga em nossa atmosfera e nada nos acontece. A Terra se carrega de mais matéria e sua densidade aumenta. O Sol passeia pelo braço de Morfeu juntamente com suas irmãs, sentindo o peso da idade para um dia consumir os seus três filhos de alta densidade e acabar fria e de brilho modesto.

Neste momento, coloco-me a divagar sobre como a vida continuará. O que acontecerá em tempos que serão o passado em instantes e é futuro e presente simultaneamente, para depois se tornar passado e se acumular na relatividade do tempo-espaço. Com certeza posso apostar que um alelo novo foi criado em alguma parte desse planeta e seu destino é conseguir se perpetuar. Deve ele ter surgido em alguma célula germinativa e terá de estar naquele espermatozóide que fecundará um óvulo qualquer e que ambos devem estar viáveis e a santa mão da recombinação possibilite que o ser que surgirá tenha as graças da seleção natural e fazer parte da seleta lista de genes de sucesso. Caso contrário, morrerá no esquecimento junto à infinita e imemoriável lista de acasos da evolução já esquecida pelo tempo.

Mas de tudo isso o tempo sempre segue. Segue ateleologicamente o seu caminho e não nos preocupamos com ele, mas o que ele nos oferece diante da nossa mente tão finita para a complexidade das coisas e tão maravilhosa ao mesmo tempo pela sua dinâmica aparentemente tão única do Universo conhecido.

Mas pense, traunseunte incauto: a vida é um castelo no alto de uma montanha, que esconde uma vela acesa em seu interior. Dependendo do seu ponto de vista, a luz estará lá e não estará. Não é a caixa de Schrödinger, mas meu castelo de janelas fechadas.