segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O velho e o novo - parte 1

Um novo ano começou e coisas novas tem se iniciado. Mas parece que se iniciaram como se fossem algo velho. Um velho ano renovado em um novo ano. É algo como dizia Hannah Arendt (um pouco adaptado): o velho requer o novo, mas tem medo dele (pouco adaptado? Totalmente). Hannah Arendt dizia que uma comunidade sempre tenta manter as suas tradições culturais e as quer repassar para as novas gerações. Porém, ela receia que as gerações mais novas mudem a cultura instalada e assim mantêm na educação sua forma de "coerção", mesmo sabendo que as coisas vão mudar, porque mudaram na época da geração anterior.

Talvez o novo traga realmente coisas novas (como sempre traz). Entretanto penso que esperamos demais da vida quando solicitamos a inovação. É como os fatores evolutivos: algo velho se adapta (mutação), conquista outros (recombinação) e se espalha (deriva). Alguns me dirão que parodiei Toulmin e sua epistemologia evolucionária, mas acho que realmente se aplica a várias coisas além da ciência o caso toulminiano. Porém não podemos deixar de reconhecer que no antigo está a essência do novo. A novidade é uma bricolagem de velharias e a cultura humana é repleta disso, na ciência, na cotidianeidade, no espírito. "A priori" uma frase de Italo Calvino no livro "As cidades invisíveis" (Companhia das Letras, SP, 1990, p. 79), quando Marco Pólo contava de seus feitos a Kublai Khan, disse sobre as pedras com as quais se constrói uma ponte: "Sem pedras o arco [que sustenta a ponte] não existe".

Assim, se pegarmos como exemplo o sofrimento, esse sentimento tão temido pelas pessoas comuns e adorado pelos poetas, ele vem da frustração por uma alegria que não se conquistou e sempre é superado por alegrias que as engavetam no fundo de nossas memórias. E assim sucessivamente. Porém, ao não haver uma mutação em algum desses sentimentos, ocorre uma estase inquieta às pessoas (geralmente aquelas que nos rodeiam) e sempre tentam mudar o sentimento (de sofrimento ou de alegria) dentro do possível.

Na próxima eu termino... vou assistir "Piratas do Caribe"...